google.com, pub-5142149462024594, DIRECT, f08c47fec0942fa0 google.com, pub-5142149462024594, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Abel revela o melhor e o pior de nós
top of page

Abel revela o melhor e o pior de nós

Sem floreios, o treinador português escancara os problemas do futebol e da sociedade brasileira


Foto: Suhaib Salem - 8/fev/2022


Durante a história do Brasil, nossos relvados foram a força motriz do futebol mundial. Pautando-se pela Copa do Mundo, nossa primeira final foi em 1950, o primeiro título em 1958 e depois acumulamos mais 4 títulos mundiais. É preciso dizer que o aspecto social de resgate à autoestima que o futebol traz ao Brasil dentro de cada conquista é incomparável.


As histórias de Copas do Mundo e Brasil são muito íntimas, em um país cheio de problemas sociais, ser o “País do Futebol” foi o que nos colocou no mapa do mundo. Nossa síndrome de vira-lata não existe quando Pelé é o Rei do Futebol, Garrincha entorta pernas, Rivellino chuta, Romário marca de biquinho e Ronaldo faz o gol na falha de Kahn.


Politicamente falando, o fenômeno futebol é um bem caro a todo governante brasileiro, a Ditadura em 70 viu o potencial midiático ufanista de Pelé e sua turma, explorando muito bem essa dinâmica. No âmbito da sociedade, Romário e Bebeto entregaram em 94 um pouco da cura nas cicatrizes deixadas pela morte de Ayrton Senna. O nosso futebol é um caldo grosso em que condensamos ufanismo, autoestima e cura.


Então, quando chegamos em 2014, tudo absolutamente desmorona, o 7x1 é uma ferida que ecoa e bate em nossos ouvidos diariamente. E ecoa forte pois definitivamente passamos por uma fase de tantos pessimismos e o futebol não transmite mais o que foi visto no passado!


Ufanismo? 20 anos sem uma conquista de Copa do Mundo.


Autoestima? Somos considerados atrasados dentro e fora do Brasil.


Cura? O brasileiro encara os preços e a desigualdade aumentando cada dia mais!


Então, diante dessa narrativa de uma linha frágil que a sociedade brasileira encara em todos os sentidos, chegam diversos treinadores europeus e que varrem o nosso futebol nacional e internacional!


Jorge Jesus, um português, foi a primeira pancada, em 6 meses de 2019, no comando do Flamengo, aniquilou o futebol brasileiro e o único que time incomodou a equipe carioca foi o Santos, comandado por Jorge Sampaoli, um argentino. Entretanto, a passagem meteórica de ambos foi curta. Nesse meio tempo, outros clubes brasileiros foram atrás de seu português, o Palmeiras achou o seu na Grécia, Abel Ferreira.


E em 2020, Abel liquidou o futebol brasileiro em 6 meses, no meio de uma pandemia de COVID, com o calendário apertado, copou a Libertadores e a Copa do Brasil. Porém, quando todo mundo achou que a passagem seria curta, a caravela portuguesa atracou. Não só ficou, como incomodou ao falar do calendário brasileiro, da CBF, dos gramados, dos jogadores. Encantou quando falou de valores familiares, de formação de equipes e métodos de treinamento. No final de 2021, conquistou novamente a Libertadores e continuou a falar e incomodar. Pois sua figura europeia como é, fala sem floreios.


Nos acostumamos com a crônica esportiva romântica do Brasil, onde ainda existem histórias de herói e vilão e os problemas são resolvidos nos 90 minutos com um drible e o gol. E foi confortável demais para as instituições viverem assim, vários treinadores brasileiros reclamaram das mesmas coisas que Abel. Porém, ao serem engolidos por essa máquina de moer carne que é nosso futebol, eram esquecidos no meio da multidão de problemas.


E Abel ficar no Brasil é como um zumbido de pernilongo no ouvido das instituições do futebol. Ele fala e reclama por respeitar demais nosso futebol, dá sugestões e escreve livros. Ele não joga o problema para debaixo do tapete e as pessoas que são acostumadas ao raso, se sentem confrontadas diretamente. Somos lembrados de forma diária de nossas falhas no Brasil, com nosso futebol e como sociedade.


O legado que Abel deixará no Brasil não será somente dentro de campo, será fora dele. Pois sua postura mostra as entranhas e feridas não curadas de nossa população, de nossos jornalistas, nossos governantes e as instituições. Dentro de campo? Que o chamem de retranqueiro. Mas que não ousem ofender sua pessoa, pois este foi uma das maiores personalidades que já pisaram em solo tupiniquim.



192 visualizações0 comentário
bottom of page